segunda-feira, 23 de maio de 2011

CONTO: A CARTOMANTE


A CARTOMANTE
               Rita tenta justificar a Camilo sua atitude insana através do pensamento de Hamlet: Há mais coisas entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia. Este, ria dela pois Rita teria ido consultar-se em uma cartomante no dia anterior.
             - Os homens são assim...-  justificava-se Rita. – Pois sabe que ela adivinhou tudinho... cheguei lá e ela logo foi me dizendo: “ A senhora gosta de uma pessoa...”, disse que sim e ela logo foi dizendo que era pra eu ficar tranqüila pois o meu medo era infundado.
              - Estás enganada... ria Camilo.
              - Não ri de mim Camilo. Tu sabe o que eu estou passando.
              Camilo entrelaçou- lhe as mãos e olhou fixamente em seus olhos. Jurou que a amava e que não havia motivo para preocupar-se, mas que havia sido tola em ir até a cartomante pois alguém poderia ter visto e Vilela ficaria sabendo.
              - Imagina... tive cuidado ao entrar na casa.
              - Onde fica esta mulher?
              - Aqui pertinho. Mas não te preocupa... a rua estava deserta na hora em que fui até lá.
              Camilo ria:
              - Tu realmente acredita no que ela te disse?
              Foi aí que Rita justificou-se através de Hamlet. Se ele não acreditava... problema dele. A cartomante havia adivinhado tudinho. Agora Rita sentia-se tranqüila e satisfeita.
              Camilo até que ia repreender Rita novamente mas lembrou-se de suas crendices de criança.
              Separaram-se contentes. Rita estava certa de seu amor correspondido e Camilo feliz por ver o quanto Rita estava se arriscando por ele. Dirigiram-se a casa em que se encontravam escondidos, cada um por uma rua para não dar na vista.
              Camilo, Rita e Vilela conheciam-se já a algum tempo. Camilo e Vilela eram amigos de infância. Separaram-se na adolescência e voltaram a encontrar-se depois de adultos. Camilo era funcionário público e Vilela advogado.
              Após um curto período de convivência Camilo já percebia sua ardente paixão por Rita. Combinavam-se muito: liam os mesmos livros... jogavam xadrez e damas ... Camilo logo tentou fugir desta paixão porém Rita estava sempre próxima e cheia de chamegos. A insanidade falou mais alto e a paixão deixou-os cegos para o mundo.
              Porém, um dia Camilo recebeu uma carta anônima que o deixou preocupado pois seu segredo era conhecido. Foi neste dia que Rita resolveu procurar a cartomante para certificar-se das verdadeiras intenções de Camilo pois este havia se distanciado da convivência harmônica dos amigos.
              Após algumas semanas e o recebimento de mais duas ou três cartas anônimas , Camilo recebeu um chamado de Vilela que praticamente lhe ordenava que comparecesse a sua casa. Este, temendo ter sido descoberto por Vilela, já ia imaginando a cena que encontraria ao chegar a casa dele. Ansioso tentava arrumar justificativas as possíveis perguntas que seriam feitas por Vilela.
              Estava tão absorto em seus devaneios que nem percebeu o que estava acontecendo. Quando deu por si estava parado , bem próximo a casa da cartomante. Como precisava acalmar-se, recuperar a confiança em si próprio, resolveu consultá-la.
              Chegando lá, a cartomante foi logo dizendo:
              - O senhor está muito assustado. Quer saber o que irá acontecer...
              A cartomante barralou as cartas e estendeu sobre a mesa. Logo revelou-lhe que não tinha nada a temer, porém era necessário ter muita cautela. Falou-lhe de seu grande amor e da beleza da mulher que ele amava.
             Quando terminou Camilo tratou de agradecer e pagar-lhe a consulta. estava tranquilo e feliz, pronto para encontrar-se com o amigo Vilela.
             Saindo da casa, tratou de tomar a condução e seguir seu caminho, agora mais leve, tranquilo e até quase feliz. No caminho tratou de arquitetar uma boa desculpa para explicar sua ausência ao amigo.
             Ao chegar a casa de Vilela, foi logo convidado a entrar e conduzido a um cômodo da casa. Percebeu a fisionomia descompensada do amigo, mas não teve tempo de questionar-lhe pois logo avistou o corpo de Rita todo ensanguentado caido no tapete e de imediato sentiu a dor de uma bala atravessando-lhe o peito. Tudo estava consumado.

3 comentários: